A reciprocidade entre sacrifício e recompensa é ilusória, vontade deliberada [e só minha] em acreditar não sei em quê
[talvez no futuro, talvez no amanhã – como se o futuro tivesse obrigação de recompensar o esforço a quem luta. Como se o amanhã, por pura bondade, concentrasse a promessa de realização de todo aquele que sonha].
Pensar que a ansiedade e a angústia não foram [nem serão] em vão é reconfortante. Imaginar a obrigação do destino em ser favorável a quem se esforça é estimulante. No entanto, sendo essa só uma idéia, o que me prende a ela? [logo eu que não sou dada a prisões?].
Logo eu, tão realista, imediatista, brincando de acreditar na força da crença... Logo eu, tão inconstante, repousando nesta certeza inédita, mas não inesperada. Porque há uma paixão em mim que me move, um estímulo latente, ardente, como um sopro de vida. A força motriz que me renova e impulsiona.
As palavras! Ah, as palavras... e muito além delas o expressar...
Co-municar. Signos e significados. Senso e sentidos expressos em letrinhas.
Não sei se acredito no destino, não sei se acredito no esforço [não há contrato nem garantias...], mas se tento, se insisto [apesar de todo imediatismo], se me obrigo a acreditar no amanhã – não se iludam – é mera resistência minha e do meu eu em continuar traduzindo a mim e ao mundo. Uma tentativa de fazer fluir à vontade que jorra. Um esforço, talvez em vão, de me tornar, no futuro, um ser [apesar de] humano um pouco menos medíocre.