quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Teoria da relatividade [o caso Ritinha]

Bem... voltei!
antes de mais nada peço desculpas pela ausência,
ultimamente este blog esteve jogado às moscas...
Esse texto, embora inédito, não é exatamente novo,
faz parte de uma idéia há muito engavetada nas minhas anotações.
Se o ressucitei hoje foi por que meus pensamentos não estavam assim tão embaralhadas.

Ritinha trabalhava em uma empresa em decadência, fazendo um trabalho medíocre. Seus tantos anos no mesmo serviço lhe conferiram perante aos demais alguma autoridade sobre o assunto. Autoridade, aliás, era o substantivo preferido de Ritinha (embora não soubesse fazer distinção entre autoridade e autoritarismo).

Vivia cercada de funcionários decadentes com salários medíocres. Orgulhava-se por receber cinquenta reais a mais do que o restante: "- um sinal de confiança no meu trabalho", dizia. E tudo o que seus cinquenta reais excedentes lhe proporcionava Ritinha explanava, contando vantagem do picolé que custava dez centavos mais caro e da farofa de praia cuja linguiça era de marca melhor.

Aos ouvidos dos colegas decadentes a vida de Ritinha era um sonho. Transpiravam por seu picolé, salivavam por sua farofa, invejavam toda sua sorte e autoritarismo. Nunca souberam o quanto se completavam, afinal seria injusto reclamar do comportamento de Ritinha sem admitir que os próprios colegas fomentavam suas atitudes.

Mas tudo, já dizia Einstein, depende do ângulo de quem vê. Ritinha bem sabia que em terra de cego quem tem um olho é rei, por isso fora tão importante manter-se em seu trabalho medíocre. Porque cinquenta reais no meio de quem não tem nada é muita riqueza. Ritinha não era rica, mas a relatividade a fazia pensar que sim.

O melhor acalento para a nossa falta de sorte sempre foi pensar naqueles que, por motivos diversos, enfrentam situação pior. Os mortos de fome ao lado nos fazem pensar que quatro refeições precárias são um luxo. Moradores de palafitas nos fazem acreditar que uma casa de tijolos à amostra é um palácio. Ritinha explorava esses contrastes em seu benefício. Deixava-se ser saudada por ter um pouco mais, tinha prazer em fazer-se Rainha. Porém o mais interessante da relatividade é a certeza de que absolutamente nada é definitivo. Ritinha bem sabia do reverso: uma casa bem acabada torna ridículo o tijolo à amostra, mas não ousava admitir para não perder o seu reinado. Vivia no país das maravilhas para não enfrentar sua triste realidade, porque, afinal, apesar dos nomes bonitos que Ritinha atribuía a si mesma, na vida real [e em terra de gente normal] quem tem um só olho não é rei, é deficiente.

Viva a teoria da relatividade,
Viva a miséria de seus súditos,
Viva a palafita, o tijolo à amostra,
que possibilitam à Ritinha, com toda a sua carência de grandeza, reinar.

P.S.: Peço desculpas desde já a eventuais mal-entendidos.
Esse post nada tem a ver com preconceito sobre as limitações físicas de ninguém.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Um post sobre nada

Há dias venho tentando pensar em um tema, um suspiro, qualquer coisa que possa se converter em postagem.

Em respeito aos meus leitores dei um tempo deste blog porque parece que nada do que tenho escrito ultimamente valeria o esforço de ser lido.

Sofro pela falta de sentido em quase tudo o que me rodeia. Como se as palavras tivessem se amotinado.

Sinto falta de estar em paz. Como se as palavras já não mais me traduzissem. Ou quem sabe seja eu que já não precise delas [de seus conceitos].

Minha inquietação está em silêncio... E neste estado de espírito onde tudo é calmaria parece que o ser que segue respirando é apenas uma parte inerte de mim.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Guerra e Paz

Já passou o Carnaval, eis que o ano se inicia realmente. Mas por algum motivo ainda estou naquele clima de descanso tão comum aos finais de ano.

Muitos planos, cabeça fervilhante, livros fresquinhos na estante, noites recheadas de romance. Há semanas estou lendo de Tolstói o livro homônimo do título desta postagem. O engraçado é que o enredo da história parece traduzir meu estado de espírito.

Guerra e paz: eis como me encontro.
Uma pequena pausa de tudo... sabe Deus para quê!

Facetas que não são minhas III - o nome da cidade

Antes de mais nada gostaria de desculpar-me postar mais uma vez inspirações aleatórias. Ando com a cabeça cheia de caraminholas e sem nenhuma inspiração. Aproveito o marasmo da minha criatividade para deixar para vocês uma música que resume um pouco da minha instabilidade.

Com vocês, "O nome da cidade" de Caetano Veloso, na voz da Adriana Calcanhoto.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Amor ou tesão? - Desencontros amorosos

Estando eu a comentar no blog retalhos de papel,

Amor ou tesão? Cada um faz bem para uma parte diferente do cérebro. Ninguém vive só de tesão. Na adolescência e juventude vá lá, os hormônios estão à flor da pele, mas com o passar dos anos [décadas], o tesão deixa de satisfazer, a liberdade descompromissada deixa de ser um atrativo. Aí, homens ou mulheres correm em busca do amor, de alguém para cuidar e ser cuidado. Uma companhia leal, constante, com quem se possa dividir mais do que uma [ou umas] noites de prazer. Alguém com que se possa dividir uma vida.

Poucas pessoas têm um amor de verdade. A maioria das que conheço não o encontram porque não sabem exatamente o que procuram. Certa vez, ainda no segundo grau (ensino médio hoje em dia), um colega me disse a frase: "quem não sabe o quer não vê o que encontra". Creio que seja o caso!

Tem de tudo: mulheres que buscam um homem safado para lhe ser fiel, ou o inverso. Mentirosos para lhe serem honestos, problemáticos para serem bem-resolvidos, egoístas para serem solidários, ciumentos para serem compreensivos, infantis para serem maduros... Apaixonam-se pela idéia romantizada do outro e sofrem a vida inteira por conta dessa opção sem se dar contar que a opção foi sua, só sua, de mais ninguém. No fim são tantos desgastes que não restam nem mais o amor nem mais o tesão. Talvez a solidão. E um monte de perguntas sem respostas. Porque, no fim, como disse um pensador: "qualquer vento é favorável para quem não sabe aonde vai".

Não, não sabem mesmo! Só é uma pena que disperdicem uma vida tão curta buscando nos outros as respostas que sempre estiveram ao alcance da própria vontade...

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Facetas que não são minhas, mas poderiam facilmente ser II [continuação]

A música abaixo chama-se "minha casa", do disco Líricas do Zeca Baleiro [para ler a letra clique aqui.



terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A incompletude do homem...

[Este foi o meu primeiro texto 'encomendado',
escrito há alguns meses a pedido do meu amigo Erich 
para ser postado no blog 30 e poucos anos.
Na ocasião, ele havia me pedido que falasse sobre 'saudade'...
É a primeira vez que o posto aqui no facetas.
Peço desculpas a quem já o leu, só estou republicando aqui
por que ando sem tempo para novas criações]

Link para a postagem original: clique aqui


Saudade? Sentimento inexplicável... Faz-se única [apesar de diversa], inconjugável [apesar de comum]. É abstrata e relativa – preenche e esvazia, apequena e agiganta – e transforma todo o sentido da vida em nada [o vazio da alma, do desejo, do amor]...


É a heróica batalha travada contra a insignificância, porque aceitar que tudo tem fim é admitir a finitude [ou pequenez?] da própria existência.

É um instrumento de perpetuação da memória [porque todo homem busca para si - e para os seus - a eternidade] e de conservação do que deixou de ser, já não existe, o que é efêmero.

É uma busca constante e vã de preservar o significado daquilo que, como a vida, nunca durará para sempre...


Para o Aurélio a saudade pode ser uma “lembrança melancólica” de “coisas distantes ou extintas”, mas para mim é um vazio [ocasionado pela falta do que não está mais em nós], uma ausência. A saída inventada – ??por Deus?? – para explicar porque o homem, apesar de racionalmente avançado, nunca deixará de ser incompleto [e conseqüentemente, humano].

Escrito em 08/10/2008.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Oba-oba, Obama!

Comentário postado no blog Te dizer, no post: "qual é a sua cor?"

Tenho meus receios de que ao invés da eleição de Obama contribuir para a erradicação do racismo contribua para a falsa premissa de que pelos EUA terem elegido um presidente negro o racismo já acabou. O racismo é um mal que cresce para dentro e tem raízes profundas.

Fazer justiça a um único homem não resolve o problema de milhares. E cá entre nós, essa babação jornalística está dando no saco!

Até porque a mesmíssima televisão que em suas célebres novelas só põe negros para fazerem papeis secundários, geralmente de empregada ou porteiro, é a mesma que agora adula a "grande mudança"...

[09/11/2008]

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Página virada

Idéia surgida ao comentar há algum tempo no post Escritas da vida,

Na vida é preciso virar páginas. É triste ver pessoas cuja leitura já acabou e apesar disso não conseguem fechar o livro. Apegam-se a qualquer resquício de palavras como se fosse toda a história. Não vivem nem deixam viver. Se esquecem de que são protagonistas do próprio enredo, preferem, por comodismo, pôr-se em papel de coadjuvante.

Esperam por tudo: amor, perdão, reconhecimento, salvação... Como se a toda alegria do mundo estivesse concentrada naquilo que se foi - quando na verdade somos nós que concentramos [ou não] a alegria no que quer que seja.

Acho triste ver tantos desperdiçando a própria energia transferindo para os outros o poder de curar os seus fantasmas. Quando deixarão de ter medo do escuro? Quando se lembrarão de que trevas e luz se complementam? Um não existe sem o outro... [um não tem sentido sem o outro] Ou será que estou enganada?

Na vida é preciso virar páginas, às vezes, até mudar de livro!

Espero que 2009 seja um ano de páginas viradas!
Espero que os fantasmas alheios nos deixem dormir... ZZz...

[Como informação complementar posso recomendar que aprendam o feitiço do patrono.
Ah! E chocolate costuma fazer muito bem em casos de TPM e ataque de dementadores...]

sábado, 17 de janeiro de 2009

Eufemismos [o caso Leozinho]

Leozinho só queria atenção. Dizia-se crítico. Falava gritando. Tudo o que ele queria era externar o que achava que sabia. Tudo o que desejava ser era o oposto do que demonstrava.

Porque Leozinho não era "inteligente", não era "legal" [nem crítico de verdade, para ser honesto]. E a despeito de todo o seu esforço a única coisa conseguia ser era um "chato". Tudo isso [e nada mais].

De certo modo era até desrespeitoso e o poder que ele julgava ter em suas palavras grosseiras, em sua brincadeira de dono da razão, era uma máscara para esconder sua grande carência. Muitos tinham até medo de suas rudes palavras, sua agressividade gratuita. Não viam, não sabiam ver, que cada xingamento seu era no fundo um pedido de socorro.

Nem Leozinho se entendia às vezes. E enchia a si próprio de eufemismos: à sua falta de educação chamava "liberdade de expressão", à sua necessidade de holofotes chamava "razão crítica".

Pobre Leozinho. Adotou para si o lema: "falem mal mas falem de mim" mas terminava se envolvendo em brigas sempre que diziam qualquer coisa a seu respeito [em geral não eram elogios]. Vivia em busca de verdades, achava-se no direito de ser dono delas. E quanto mais ele buscava provar-se superior ainda mais nítido seu complexo de inferioridade se revelava.

Sempre que o vejo lembro-me do trecho de uma música do Zeca Baleiro: "mesmo o mais sozinho nunca está só, sempre haverá um idiota ao redor..." Sei não. No caso de Leozinho já é ele o idiota [outro eufemismo - se querem mesmo saber]...

Com todo respeito à sagaz percepção do ilustre Zequinha, mas [por educação] talvez seja melhor eu recorrer a outras frases...

domingo, 11 de janeiro de 2009

Transtorno pronominal [o caso reto]

Dedico esta série Gramaticando ao meu irmão mais velho.
Espero que haja alguma clareza nos meus textos
para que o auxiliem em sua batalha contra a gramática.


Era um dia comum como [quase] todos os outros. Aurora havia acabado de retornar à casa depois de mais um cansativo dia de trabalho. Estava ainda na entrada do prédio quando Jairzinho, vizinho de mesma idade que seu filho Roberto, desceu as escadas em direção à rua.

- Tia, posso brincar na sua casa? - perguntou Jairzinho trocando olhares com o amigo, já dando meia-volta e acompanhando Aurora e Roberto de volta às escadas.

- Acho que você deveria avisar a sua mãe antes.

- Ela já sabe!

- Sabe nada, Jair! - disse em tom brincalhão mas claramente repreensivo. Ele sorriu um sorriso sapeca que por si só parecia gritar: estou mentindo.

- Façamos o seguinte: a tia entra primeiro, guarda as bolsas e depois que o Betinho estiver de banho tomado pedirei para ir te chamar, está bem assim?

- 'Tá bom, tia!

Banho tomado, lanche também, dever de casa feito, eis que Aurora permite que Roberto vá chamar Jairzinho.

No meio da brincadeira Jairzinho se aborrece com uma divisão [na sua opinião] injusta dos carrinhos. Isso porque, tendo dois, Roberto deu um para cada e Jairzinho queria todos.

- Mãe, o Jairzinho quer ir embora...

- Ok. Eu o levarei em casa.

Mas Roberto, preocupado com a impaciência do amigo, adiantou-se à porta e começou a girar a chave.

- Roberto! Você escutou o que acabei de falar?

- Escutei, mãe: "vamos levá-lo em casa"!

- VAMOS? Não disse "vamos", disse que "EU" o levaria em casa! "Eu" e não "nós"!

- Então, mãe: EU-ROBERTO!

- Nãão... EU-AURORA!

- A senhora é "você", mamãezinha... "EU" sou EU mesmo: R-O-B-E-R-T-O!

Aurora respirou fundo. Impossível explicar a uma criança tão pequena todas as relatividades dos pronomes pessoais do caso reto...

A essa altura Jairzinho já havia se esquecido de que queria ir embora. A briga pelos dois carrinhos era assunto do passado, agora estava de volta ao quarto montando as primeiras peças do joguinho de quebra-cabeça.

Raros minutos de silêncio se passaram.

[...]

Então:

- 'Bétô', onde encaixo esse?

Roberto adiantou-se e encaixou a peça no local correto. Jairzinho cruzou os braços com uma expressão profundamente ressentida. Levantou-se num pulo:

- Seu sem-graça! - vociferou indignado - Era para EU montar...

- Eu-Roberto?

- ARGH!!!! - e Jairzinho saiu pisando fundo pela porta afora [tão rápido que] nem deu tempo de Aurora alcançá-lo. Roberto, no entanto, em sua confusão pronominal, jamais soube como aborrecera o amigo...

- Eu, heim!

Aurora, embora tentasse explicar, quase sempre perdoava a falta de entendimento das crianças por elas pouco saberem de gramática. O estranho é que muitos conhecidos seus, já sendo adultos, tinham a mesma dificuldade de Roberto para relativizar o eu...


terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Versos cirúrgicos

A poesia
é um bálsamo
à alma
à estética
perfeita harmonia
entre ritmo e sentido.

Reduzi-la
a um simples jogo-de-palavras
rimas baratas
e prosas disfarçadas de versos
[passionalmente esquartejadas]
é, antes de mais nada,
uma ofensa à arte!

A poesia
é beleza,
riqueza,
intensidade,
técnica,
lirismo,
criatividade...

De modo que mais agrada uma prosa poética do que

poesias
cirúrgicas
de
palavras

re-
men-
da-
das.

Salvem a poesia! - ela está no CTI e toda hora surge um louco prestes a praticar a eutanásia!

Todo
esse
texto
prosaico
foi
propositalmente
dividido
para
demonstrar
como
é
possível
destruir
a
alma
poética
se
a
reduzirmos
a
um
mero
remendo
de
versos.

Afinal, poesia também é estética!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Selo A-D-O-R-O o seu blog!

Recebi este selo do Arthur do blog Paranóia e Lucidez.... Fiquei tão feliz com o selo quanto tanto com a dedicatória escrita por ele! Agradeço ao Arthur por mais esta gentileza!





Quem já frequenta este espaço sabe bem da minha política de não repetir indicados. Sendo assim, esse selo vai para o blog Falando de Língua do Marcelo Leite. Dele eu só conhecia o Saco de Filó mas recentemente fui apresentada ao Falando de Língua e fiquei encantada com o espaço [principalmente pelo assunto que aborda: LINGUAGEM - um tema que eu amo demais!].

Meus sinceros parabéns ao Marcelo [se é que o trabalho dele ainda precisa de elogios, rs].

06/01/2009

Sejam bem-vindos ao facetas!

................TODOS OS TEXTOS DESSE BLOG SÃO AUTORAIS............

Resolvi utilizar este espaço para divulgação de trechos de alguns trabalhos meus... Espero que vocês apreciem. Críticas e comentários serão muito bem-vindos, sobretudo críticas!

Se você já leu o texto acima não fique tímido: fique à vontade para comentar em outras postagens!