quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Dostoievski e outros clássicos

Sempre tive talento para gostar do incomum. Quando criança chamavam-me “do contra”. Não que de fato eu só quisesse contrariar mas as pessoas às vezes preferiam dar rótulos a quem não fosse igual a elas.

Tinha e tenho meus gostos, independente da moda ou do que diz o “Fantástico” e assim também o era na literatura. Não saberia estimar o número de livros que já li. Muitos. Muitos mesmo. A maioria do tipo que ninguém em sã consciência se interessaria por livre e espontânea vontade [filósofos, sociólogos, lingüistas, psicólogos, juristas, religiosos, educadores, anarquistas...].

Por conta disso poucas vezes pude participar de rodas literárias ou eventos do gênero sob risco de apedrejamento. Minha leitura vasta, não-direcionada, tornava [torna até hoje] impossível discutir Shakespeare, Tolstoi ou Jane Austen. Cecília Meireles? Nunca li na vida! E ao falar sobre os livros de que gostava e não raro ouvia um “o quê, heim?!” ou um simplório “putz! que assunto mais chato!”. Exceções eram o Machado, que ‘todos’ conhecem o nome, e o Drummond, que ‘muitos’ conhecem a obra.

Visando amenizar um pouco desse problema no início de 2008 decidi aprender mais sobre os grandes gênios da literatura e em parte das horas vagas dediquei-me a esse ofício.

Aos poucos fui comprando um livro aqui e outro ali. Tudo bem que vez ou outra escorregava em meus propósitos, porque apesar de ser meu gênero favorito ninguém vive só de romance [pelo menos não eu!].

Não sei se preciso dizer o quanto sou crítica, mas lendo Dostoievski, um dos autores cujas obras ainda desconhecia foi impossível não fazer eco aos elogios - e logo eu que sempre tive receio de ecos por não deixar clara a intenção e origem das vozes... Irônico, não?

De clássico em clássico estou expandindo os conhecimentos sobre esse mundo tão vasto e complexo que é o literário. Sinto que preciso aprender mais sobre os grandes autores, às vezes até penso em voltar à faculdade e cursar letras! Mas então a realidade cai sobre minha cabeça como um balde de água fria...

- ACORDA, Menina! Você precisa trabalhar, dar um futuro ao seu filho, ganhar dinheiro!

Ops! Atrasada de novo... [esse negócio de ficar sonhando é foda!].

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O efêmero

Desde muito novo Aurora acostumara seu filho a dormir em seu próprio quarto com alguns brinquedos. Lera em uma revista que oferecer às crianças bonecos como companhia ao sono é um excelente estímulo à independência emocional. Só tomava o cuidado de não repetir sempre os mesmos, para evitar costumes incômodos, por isso vez em quando revezava entre carrinhos, ursos e bonecos. No mais, a rotina à hora do sono pouco variava [quase] todo santo dia:

- Posso dormir com os carrinhos de hot wheels, mãe?

- Sim. Quais?

- O verde e o azul... – o menino respondeu bocejando - posso dormir com a pista também?

- A pista não.

- Vou poder brincar com a pista quando acordar?

- Amanhã de manhã, querido. Mas agora é hora de dormir. – Aurora deu quatro beijos no filho, um em cada extremidade do rosto como se fossem pontos cardeais - boa noite!

[...]


Então veio o Natal:

- Mãe! Pai! Posso dormir com meu carro vermelho de controle remoto super novo?

- É claro! Só nos deixe fazer uma coisinha antes... – disse o pai enquanto Aurora cuidadosamente retirava as pilhas do brinquedo, guardando-as na gaveta. Cobriu o menino, deu-lhe um beijo carinhoso na testa e sentou-se à cama.

- Espero que tenha gostado do seu Natal.

- Adorei!

- E da festa?

O menino acenou afirmativamente com um largo sorriso na boca e os olhos brilhando de excitação enquanto admirava o novo brinquedo. A mãe, percebendo o entusiasmo, perguntou:

- Papai Noel acertou no presente?

- SIIIIM! - alteou a voz ainda agitado. A mãe sorriu. Ali estava sua recompensa por ter assumido tantas prestações, afinal tal brinquedo não fora nem um pouco barato.

- Boa noite, querido. Seus pais te amam muito!

- Também amo vocês!

Ambos, pai e mãe, deram mais um beijo no pequeno, depois em seu nariz, e fizeram menção de levantar da beirada.

- Mãe? Pai? - o menino segurou-lhes a mão.

- Diga, filhote!

- Fale, meu anjo!

- Posso brincar com o carro quando acordar?

- É claro!

- Com certeza!

- Eu nem queria dormir hoje de tanto que gostei dele. Queria só ficar brincando!

- Nada disso! Todos nós precisamos descansar. Boa noite!

- Terá tempo de sobra pra isso amanhã. Boa noite!

No dia seguinte chegaram os tios e os outros avós - todos para ver o garoto - e cada um dos que apareciam em visita trazia um novo brinquedo para dá-lo.

[...]

- Mãe, deixe-me dormir com todos os presentes de Natal?

- Todos não. Terá que escolher somente dois.

- Pode ser o boneco-lutador que lança raios?

- Sim. E tem direito a mais um – Aurora, presumindo que escolheria o carro vermelho de controle remoto, adiantou-se e estendeu o brinquedo.

- Não... queria dormir com o quebra-cabeças, aquele que o vovô me deu...

- Se dormir com o quebra-cabeças pode estragar e perder as peças.

- Tá... - concordou contra a vontade - Fico só com o boneco!

[...]

Durante todo o dia seguinte o menino não se distanciou nem um só segundo dos novos brinquedos. Até para o banheiro os levava. Foi preciso muita perseverança para explicá-lo que o carro vermelho teria uma pane caso alguém o submergisse na banheira, mas a química, com suas ferrugens e curto-circuitos, era assunto complexo demais para um menino tão pequeno.

Então, depois das festas:

- Mãe, pode pegar um brinquedo para eu dormir?

Ela buscou nas prateleiras o boneco-lutador e o ofereceu.

- Não, esse não!

- Quer aquele com controle remoto?

- Não, né, mãe? - disse impaciente, como se estivesse explicando a coisa mais óbvia do universo - Eu brinquei o dia inteiro com ele...

- Qual você escolhe então, rapazinho?

O menino apontou para a gaveta mais alta da cômoda. Aurora, vendo o que havia dentro, sorriu, como se já esperasse.

- Qual deles?

- O verde e o azul...

Aurora beijou-lhe com um sorriso enviesado. Sequer havia pago a primeira parcela do carrinho e o menino já havia cansado dele.

- Mas nada de pista, heim?

domingo, 21 de dezembro de 2008

O lado vazio da lógica

Adoro matemática, apesar disso jamais tive interesse pelo ramo de exatas ou engenharia. Não pela complexidade de teoremas e cálculos, pelo contrário! O que mais me encanta na matemática é a linguagem, a sintetização em fórmulas daquele que é um pensamento universal através de algarismos e símbolos [tal qual na escrita, com suas letras e pontos...].

Para mim o problema da lógica está nos números [não têm história] e não na conta. Mais precisamente nos zeros à direita, ou no que eles representam.

Explicarei melhor: quando era só a minha mãe a vir a este espaço, ter 1 leitor tinha toda significação do universo... então os números foram crescendo: tios, primos, amigos, comecei a divulgar o facetas para 'desconhecidos' e num piscar de olhos chegamos a 100 leitores [e cem, que não é tanto assim para um blog, já tornava difícil enumerar todos os visitantes!]. Rapidamente as somas foram aumentando, tomando vulto.

Hoje, quando vejo 6.100 leituras, não posso deixar de me sentir feliz. Tantos leitores assíduos me dizem que algo nestas facetas agrada a quem vem aqui. Esses números também me fazem lembrar que não vieram de graça, fiquei muito tempo interagindo com outros blogues e fazendo divulgações.

Por outro lado, não posso ignorar a constatação de que tais números, apesar de serem um termômetro favorável à minha literatura, me incomodam por sua frieza.

Os números, por si só, são vazios, rígidos, impessoais. É por isso que faço lembrar dos Erich's, Ana's, Márcio's, Luís'es, Alex's, Marcelo's, Alexia's, Gizelli's, Wander's, Guilherme's, Letícia's, Danilo's, Marcos, Cleidemar's, André's, Euzer's, Jaque's, Jonatha's, Karina's, Carlinho's, Erica's, Thiago's, Karla's, Rafa's, Rosângela's, Frank's... São tantos outros nomes, tantas diferentes histórias...

A gente aprende na escola que os números vão de 1 ao infinito mas percebo, como ensinou Einstein, que esse 'infinito' é relativo, limitado. [Com todo respeito aos amantes da lógica] mas 4 algarismos apenas, apesar da grandiosa idéia de quantidade que demonstram, jamais traduzirão a intensidade e gentileza, participação e importância de todos os visitantes na construção deste espaço.

Esse é o limite da matemática, do raciocínio lógico... Acho que foi por isso que preferi rumar para o mundo das palavras [26 letrinhas apenas! Mas a variedade de combinações, sentidos e possibilidades - essas sim - são indubitavalmente incontáveis!].

Muito obrigada a todos os que passaram por aqui, comentando ou não, e ajudaram a construir a história deste blog! Obrigada aos que riram, se emocionaram, choraram, divergiram... Obrigada, principalmente, àqueles que criticaram meus textos, me fizeram crescer e aperfeiçoar a escrita para que este lugar ficasse agradável a muitos outros que viessem [e vieram!] a aportar nestes mares.

Parabéns a todos nós, já que este é e sempre foi um espaço de aprendizado!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Divindade

Idéia surgida ao comentar no blog prolixo lacônico há muuuuito tempo atrás
(agora só prolixo, mas já me afeiçoei ao antigo nome
fiquei com essa idéia anotada para quando eu estivesse sem inspiração
e, bem... não vejo momento mais propício do que este



Acho que o homem sempre busca aquilo que "é mais" do que ele mesmo. Muitos que conheço tendem a divinizar o homem inteiro por causa de uma, apenas uma, atitide louvável do mesmo. E aí caem do cavalo, mas o cair do cavalo nada mais é do que descobrir que tal gênio, apesar de sê-lo, permanece tão humano quanto qualquer outro.

Tudo bem que existiram Platão, Gandhi, Da Vinci, Bethoven, Einsten, Nietzsche...

Mas cá entre nós: quantos deles pegam ônibus com vocês? Não que nossos colegas de condução não tenham lá suas qualidades... Mas quantos vizinhos músicos são 'Bethoveen'? Quantos professores são 'Einstein'? Quantos moralistas revoltados são 'Nietzsche'? Quantos artistas são 'Da Vinci'? Quantos libertários são 'Gandhi'? Quantos pretensos filósofos são 'Platão'?

Estou cansada de ver sempre mais do mesmo!

Não busco ser Deus [como diz o hit do momento: "cada um no seu quadrado"], mas jamais serei feliz sendo apenas mais uma a nascer e morrer. Jamais serei completa fazendo aquilo que alguém determinou para mim. Preciso me reiventar a todo instante. Praticar minha imperfeição como se fosse uma dádiva. Redescobrir o sentido de tudo, de todos, de mim [inclusive deste blog, rs].



******

Há um tempo tudo o que eu queria era que o facetas tivesse um grande número de visitações. Fiz de tudo para alcançar o meu objetivo. Mas hoje, beirando as 6.000 leituras novamente constato que os números, quando traduzem uma grande quantidade, tornam quase tudo impessoal...

É por isso que ainda prefiro os pronomes!

[30/09/2008 ]-[13/12/2008]

Selo Blog Show!

Recebi este selo do Kadan, do blog homenzinho de barba mal feita. Fiquei super feliz com a dedicatória escrita por ele. Não tenho como agradecê-lo por tanta gentileza!





Agora tenho que indicar um blog para receber o selo também... Vocês já sabem da minha política de não repetir indicados...

Dessa vez inovarei. Indicarei um blog não por seus dotes lingüísticos ou literários, mas pela beleza de seus propósitos. Não deixem de visitar o nova córnea, que narra a rotina e as angústias de pessoas na fila de transplante. Com certeza não irão se arrepender!!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

"Gênio Indomável"

Esta é uma releitura da GI, do blog Gotas introspectivas,sobre o post Eu-lírico.
Ela teima em dizer que a junção do G com I é um diminutivo de Gizelli,
mas eu desconfio ser uma abreviação de Gênio Indomável.
Por que [convenhamos], a Gi é Genial!!!
OBS (da Ellen): para melhor entender a piada, sugiro ler primeiro o post Eu-lírico...


"Antes de mais nada, um aviso... Não estou comprando conselho ainda!

Eu, enquanto autora, sou uma boa arquiteta. Contudo, ainda gosto de me iludir ao pensar que meu blog tem alguma coisa que as sólidas paredes de concreto não tem: Alguma coisa de flexível, de literário. Sim, eu gosto de me iludir.

Tal qual a minha arquitetura, meu blog mostra frações de quem eu sou. Ou de quem eu gostaria de ser. Ou nada disso. Mas a cada dia, alguém só vê o que quer enxergar. E normalmente, não enxerga nada de mim, ao ponto de eu começar a pensar em abrir uma ótica... porque o que tem de gente no mundo que não enxerga um palmo à frente do nariz...

É aí que aparecem os comentários-conselhos! Todos tão longe das minhas palavras flexíveis ou das minhas paredes sólidas... Mas não se entristeçam, é sempre divertido ver que ninguém me entende perfeitamente. Pessoalmente, nem me pergunto mais onde eu errei. A minha pergunta é: Quando é que eu vou acertar em cheio!?



P.S.[ainda da GI]: Dizem que se conselho fosse bom, a gente vendia.
Bom, se fosse bom mesmo, já tinha anúncio até nas casas Bahia.
Essa é a sutil diferença entre ser um peixe ou não ser...
Contudo isso já é tema de poesia..."

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Eu-lírico

Antes de mais nada, um aviso... este blog não é um divã!

Eu, enquanto autora, sou uma artista. Visto, a cada texto, um personagem. Assumo, a cada assunto, um ponto de vista [não que só veja daquele ponto, mas pela liberdade de explorar as possibilidades de se ver].

Este blog mostra de mim as facetas. Não todas, apenas aquelas por cuja conveniência sou impelida a mostrar.

A cada texto reinvento, reescrevo, reencontro. Sou grata à literatura porque me permite viver as faces de um "eu" que não é meu, um outro, alguém... Meu eu [só que lírico].

Não desejo desapontar os que bondosamente fazem de minhas postagens mais uma oportunidade de distribuir conselhos mas torna-se inevitável pensar, sempre que recebo comentários do gênero, que ainda não tornei suficientemente claro que este blog é literário.

Onde foi que eu errei?

P.S.: os que ainda assim estão se coçando para tentar me encorajar [um paliativo]
eu peço gentilmente que avaliem e critiquem a construção deste texto
para saber onde está a falha na transmissão da minha mensagem.
A sutil [e sublime] diferença entre dar o peixe e ensinar a pescar...

Sejam bem-vindos ao facetas!

................TODOS OS TEXTOS DESSE BLOG SÃO AUTORAIS............

Resolvi utilizar este espaço para divulgação de trechos de alguns trabalhos meus... Espero que vocês apreciem. Críticas e comentários serão muito bem-vindos, sobretudo críticas!

Se você já leu o texto acima não fique tímido: fique à vontade para comentar em outras postagens!