Escrava de quase tudo o que condenei, o falso, o cínico, o pensamento coletivo querendo determinar em e por mim o que é bom, o que é certo. Escrava da beleza [ou da idéia que faço do que venha a ser belo] por mais que a vaidade o tenha negado. Escrava do amor quando o fiz mais forte do que a minha liberdade de não-amar. Escrava de toda ideologia: a esperança adormeceu minha revolta, a bondade fez de mim um animal domesticado, a crença atribuiu ao místico o poder que carrego em mim de transformar o mundo.
Desafiei-me a libertar-me de tudo o que me prende e o mais difícil tem sido ignorar a verdade, a razão e a minha própria vaidade. O caminho está sendo longo mas não sou daquelas que desiste fácil. Já consegui me libertar de outras algemas e ainda hei de me olhar no espelho e ver o reflexo de uma pessoa livre. Autêntica, de fato.
Porque já percebi: fomentar a vaidade alheia é uma forma pacífica de manipulação. Mas pior do que ser manipulado é ignorar que a manipulação exista. Talvez, só de reconhecer isso eu já tenha dado um passo [inicial e decisivo] para longe da minha própria inércia.