Sou julgada por valores que não são meus. As métricas que me avaliam distorcem o que me cerca. Qualidades? Viram defeito! Os defeitos? Viram tragédia.
Onde quer que eu vá há um molde me esperando. Um rótulo, um gênio, que em vez de lustrar sua própria lâmpada traça planos infalíveis para fazer brilhar a minha. São vozes sem timbre, rostos sem face. Qualquer tipo de lei não-democrática, eleita pela vontade de um só mas se achando no direito de reger o mundo. Gritam diretrizes, recomendações. São frases, silêncios: reprovações!
Tentam me esculpir, como seu eu fosse efêmera, obra inerte e inacabada à procura do grande mestre [como se eu precisasse de finalização]. Como se TODOS, além de mim, fossem mestres [como se todos os mestres fossem eu]. Fabricam mapas para traçar o meu caminho, como se toda bússola não apontasse para o norte, como se todo umbigo não apontasse para o dono...
Qualquer um tem solução para os meu problemas e a maioria vê problema onde não tem. Se aplicassem em si mesmos todas as fórmulas que me ditam quem sabe disfarçariam melhor a impressão de que não passam de rudes infelizes ditando instruções engessadas de felicidade.
Enquanto isso, eu vivo! Vitórias ou fracassos? Não importa! Sigo o meu trajeto, o meu instinto. Às vezes abrindo trilhas, outras vezes só indo adiante... Se os frutos serão doces ou amargos não faz diferença. Onde quer que eu os prove terei a certeza de que a paisagem ao fundo não é não é cenário! Ajudei a pintá-la com as cores de que gosto: fui eu que a escolhi para mim!