Lembro-me de quando entendi pela primeira vez o significado das letras do meu nome e o porquê de serem escritas exatamente naquela ordem. A experiência da leitura trouxe um mundo novo para mim. Eu tinha cinco anos, mas guardo viva até hoje a excitação, a euforia, por conseguir conectar-me à existência de um mundo de significados milenar.
Como aluna sempre fui ótima: nota dez, c.d.f., aluna-exemplo. Minha maior dificuldade não eram as matérias e sim o horário, afinal acordar cedo e andar debaixo de sol nunca foram meus hobbies prediletos.
No primário fui a terceira melhor aluna, com direito a homenagens. No ginásio, a segunda melhor, e recebi até medalha. Formei-me no ensino médio como a número um do colégio; mas então, ironicamente, isso já não fazia diferença para mim.
Minha prima, uma série acima da minha, só aprendia matemática comigo. Não sei explicar como eu conseguia fazer aquilo, mas bastava eu ler o livro dela, olhar os exemplos e pronto! Toda a complicação da lógica, da física ou de qualquer outra disciplina tornava-se simples na minha cabeça! Eu não só era capaz de aprender sozinha matérias de séries mais adiantadas [mesmo sem tê-las estudado na escola] como também era capaz de fazer qualquer um entender a matéria que fosse!
A faculdade? Pública! Passei na primeira tentativa sem ter feito pré-vestibular em uma época em que ainda não se falavam em cotas. Repetência? Só por falta! Mesmo assim no estágio e em virtude da correria com os preparativos para o casamento.
Por mais que muitos de vocês me digam que este currículo é o máximo, eu na maioria das vezes me sentia um E.T. afastado de sua terra-natal. A situação que mais clara e duramente explicitou isso foi certa vez em que, na adolescência, estávamos os jovens reunidos na praça local como sempre fazíamos aos finais de semana. Eu, que sempre tive uma queda por gramática e linguagem, fazia - por opção - o uso do português correto em todas as suas ênclises, plurais e regências.
Falava assim não para me mostrar. Falava certo porque gostava, porque estava na regra e àquela época - ingênua - eu ainda acreditava que toda regra era para ser seguida.
Mas então, à certa altura, aconteceu de eu chegar na roda de conversa e um senhor que debatia entusiasticamente se calar. Aconteceu com ele, depois com outros. Logo descobri que as pessoas, diante do meu modo de falar, sentiam vergonha de seus vocabulários.
Nenhum de vocês poderá entender o que perceber isso significou para mim. Foi ali que descobri o real sentido da palavra c-o-m-u-n-i-c-a-ç-ã-o. Ironicamente, para me comunicar as gírias tinham que fazer parte do meu linguajar.
Carreguei, desde que me entendo por gente, o estigma de “inteligente”. A Ellen, diziam quase todos, vai chegar longe! E por me sentir um E.T. perdido na terra quase sempre eu tinha vergonha de contar os meus êxitos. Somente quem já viveu como o centro das atenções sabe dar o devido valor à discrição. Era o meu caso. Vestibular, concurso público... a cada aprovação uma sensação de receio, parecia a confirmação de que eu não viera deste planeta, sentia-me ilhada...
Hoje, quando vejo as peripécias do meu filho, tão novo, tão surpreendentemente inteligente, uma perspicácia quase anormal para sua idade, o filme da minha vida passa inteiriço pela minha cabeça.
Vejo muito de mim no meu filho... em alguns momentos vejo repetir nos outros a mesma falta de estrutura para lidar com tal situação. Só espero que eu, por ter sentido na pele essa experiência, possa convencer a mim mesma que inteligência não é um defeito, porque por anos a fio tive a impressão de que todo aquele isolamento era uma forma sutil e incoerente de ser castigada. Hoje entendo que não, afinal a história da humanidade não termina em mim.
Vejo muito de mim no meu filho...
Talvez por isso eu consiga no futuro melhor orientá-lo.
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Comissão de corretor. Esse é o tema dessa postagem...
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