quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A cadeia alimentar

Nas relações humanas as pessoas que são fracas, quando percebem a própria fraqueza (ou reconhecem a superioridade do outro) tendem a camuflar a própria imagem (ou seria opinião?) a fim de manter-se viva (atuante) no meio social. Tornou-se uma característica humana a auto-preservação diante do “predador".

Mesmo as pessoas mais fortes, mesmo as personalidades mais firmes, em algum momento vacilam diante daquele que pode “devorá-lo”. E mesmo no topo dessa “cadeia alimentar”, quando aparentemente não há um predador a temer, a própria natureza (o tempo ou disputas pelo poder) se encarrega do ônus de manter o equilíbrio entre as espécies.

Percebe-se que quanto mais baixa for a posição da pessoa na cadeia alimentar mais necessidade de camuflagem essa pessoa terá.

Percebe-se que a posição de cada um na “cadeia alimentar” está diretamente ligada à auto-percepção em relação ao outro com o qual se relaciona e varia se a pessoa se julga em posição de igualdade, superioridade ou indiferença.

A indiferença fere mais que a inferioridade porque a indiferença significa total ausência de valor. É, para o ser humano, a pior de todas as formas de relação, porque ser superior ou inferior é normal, porque o inferior só é menos em relação ao outro enquanto o indiferente não é nada. E todos sem exceção desejam ser algo, todos, sem exceção, desejam reconhecimento.

O que há por trás de reconhecimento? O sentimento de importância. O que há por trás do sentimento de importância? A elevação de si mesmo na “cadeia alimentar”, ou seja, a agradável (e perigosa) sensação de superioridade, ou, como bem definiu Nietzsche, nossa “vontade de potência”. Mas seria um crime hediondo resumir Nietzsche no final do sexto parágrafo. Nietzsche merece uma discussão à parte.

Muitos são obcecados pelo “topo da cadeia” e nesse sentido a superioridade é uma armadilha porque pior que o predador imediato é a natureza quando reclama sua justiça.

Nunca, em momento algum fomos capazes de tirar a venda dos olhos, olhar nossa própria camuflagem e reconhecer que graças a ela estamos sobrevivendo. A camuflagem pode ser útil em momentos vitais. Perigo há em usá-la em excesso, fazer da camuflagem nosso rosto, esquecer quem de fato nós somos para nos reduzirmos a “algo” (superior, inferior ou indiferente) que só tem sentido em relação a alguém. Por que a camuflagem nada mais é do que uma atitude relacional.

Em momento algum paramos para refletir sobre os usos que fazemos dessa camuflagem. Perdemos a capacidade de nos perguntar o por quê de nossas atitudes. Vivemos uma vida meramente reativa, quase irracional.

A gente, para se achar importante, se pensa civilizado e não percebe, não quer perceber, que toda cidade (enquanto organização humana) não passa de uma selva de concreto. Por que no fundo nunca foi uma questão de ONDE estamos mas QUEM realmente fomos, somos ou desejamos ser.

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